VOCÊ TRABALHARIA PARA UMA MULHER?
Por Adriano Silva – Portal Exame
Tem homem que prefere ter como chefe uma mulher. E outros que não admitem essa
possibilidade. (Há organizações inteiras cuja cultura exclui a chance de
haver mulheres na alta gerência. Em pleno anno domini de 2009!) Tem mulher
que detesta ter outra mulher como chefe. Como é comum em questões de gênero
no país, os maiores preconceitos que já presenciei contra as mulheres advêm
das próprias mulheres. Das donas de casa que foram às ruas apoiar
ostensivamente Doca Street depois de ele ter assassinado Angela Diniz às
moças que sempre imaginam que as barbeiragens são realizadas por outras
mulheres ao volante. (Pois é. Não são só os homens que xingam a Dona Maria
no trânsito. Muito ao contrário. Ainda que na maioria das vezes o culpado
seja um barbado. Ainda que o seguro automotivo seja mais barato quando o
condutor é uma mulher exatamente porque elas se envolvem em menos
acidentes.)
No mundo do trabalho, a visão sexista pressupõe que as mulheres sejam um
tipo diferente de executivo, de chefe, de subordinado, de funcionário só
pelo fato de serem mulheres. Às vezes esse viés é positivo e enaltece as
qualidades femininas à frente dos negócios. Às vezes esse viés é negativo e
derruba de antemão todas as possibilidades das mulheres no jogo corporativo.
Como se o gênero feminino inteiro tivesse jeitos e peculariedades que fossem
só dele, que não fossem compartilhados por mais ninguém nem nesse planeta
nem nos demais, e que não fossem exatamente recomendáveis para posições de
responsabilidade e decisão. A meu ver, ambas as visões são discriminatórias.
E altamente imprecisas.
Há ótimas executivas. E grandes chefes mulheres. E há executivas que são
gerentões dos anos 80, no pior sentido da expressão. Que são chefes brutais,
que maceram os talentos e desestimulam o mundo à sua volta. Há executivas
sensíveis, delicadas, habilidosas, femininas. E há tratores, caminhões pouco
inteligentes e pouco charmosos, carregados com toneladas de insegurança. Há
o toque maternal, as vantagens competitivas de quem nasceu com útero e
mamas. E há mulheres masculinizadas pelo piores parâmetros que os homens têm
a oferecer, com mais sede de sangue do que um general huno, mais perversas e
insidiosas e corrosivas do que qualquer par de cuecas jamais poderá ser.